Evolução do desenho infantil
Modo de expressão próprio da
criança, o desenho constitui uma língua que possui o seu vocabulário e a sua
sintaxe. Ao prazer do gesto de desenhar associa-se o prazer da inscrição, a
satisfação de deixar a sua marca. Os primeiros rabiscos são quase sempre
efectuados sobre livros e folhas aparentemente estimados pelo adulto, possessão
simbólica do universo adulto tão estimado pela criança pequena.
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas.
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interacções da criança com o acto de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma acção sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa acção produziu.
Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes tentamos interpretar os seus desenhos; devemos lembrar-nos que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É aconselhável que os pais/professores facultem às crianças o contacto com diferentes tipos de desenhos e obras de arte, que elas façam a leitura das suas produções, que escutem a leitura de outros e ainda que sugira à criança que desenhe a partir de observações diversas (cenas, objectos, pessoas) para que possa ajudá-la a assimilar informações e assim enriquecer o seu grafismo. As crianças poderão assim reformular suas ideias e construir novos conhecimentos.
O importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção directa de adultos, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Alguns psicólogos e pedagogos, recorrendo a uma linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referências para fasear a evolução do desenho infantil:
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas.
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interacções da criança com o acto de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma acção sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa acção produziu.
Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes tentamos interpretar os seus desenhos; devemos lembrar-nos que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É aconselhável que os pais/professores facultem às crianças o contacto com diferentes tipos de desenhos e obras de arte, que elas façam a leitura das suas produções, que escutem a leitura de outros e ainda que sugira à criança que desenhe a partir de observações diversas (cenas, objectos, pessoas) para que possa ajudá-la a assimilar informações e assim enriquecer o seu grafismo. As crianças poderão assim reformular suas ideias e construir novos conhecimentos.
O importante é respeitar os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção directa de adultos, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Alguns psicólogos e pedagogos, recorrendo a uma linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referências para fasear a evolução do desenho infantil:
Entre um e três anos.
É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controlo motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controlo motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
Entre três e quatro anos.
Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. A criança também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. A criança também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
Entre quatro e cinco anos
É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, variando no uso das cores e buscando um certo realismo. As figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedece a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência para a antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da Natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência costuma prolongar-se até aos sete ou oito anos.
É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, variando no uso das cores e buscando um certo realismo. As figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedece a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência para a antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da Natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência costuma prolongar-se até aos sete ou oito anos.
Entre cinco e seis anos
Os desenhos baseam-se sempre em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o facto de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.
Os desenhos baseam-se sempre em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o facto de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.
Entre sete
e oito anos
O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já transmitem uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas crianças deixam de desenhar se acharem que seus trabalhos não estão bonitos.
O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já transmitem uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas crianças deixam de desenhar se acharem que seus trabalhos não estão bonitos.
O texto abaixo são ideias
parafraseadas dos autores: Emília Ferreiro, Isabel Solé, Antoni Zabala, Regina
Scarpa e Vygotsky com o objetivo de esmiuçar conceitos e facilitar a
compreensão sobre a importância da mediação do professor na organização de
ambientes alfabetizadores que respeite a infância.
Comecemos a leitura com uma provocação: Devemos ensinar ler e escrever na educação infantil?
Comecemos a leitura com uma provocação: Devemos ensinar ler e escrever na educação infantil?
Existe uma constante polêmica sobre
ensinar ou não a ler e escrever na educação infantil. Antes de responder é
preciso clarear ideias e conceitos que possam ajudar a fazer escolhas mais
acertadas na prática educativa dentro desta linguagem.
Quando falamos em escrita, pensamos
unicamente na escrita alfabética e no alfabeto latino. Existem diversos
sistemas de escrita, como também diversos usos sociais. Na história, o controle
da escrita sempre esteve ligado ao exercício de poder.
Infelizmente essa ligação continuar a
existir, apesar da democratização das práticas ligadas educação.
Para pensar no ingresso da cultura
escrita, é preciso pensar na sociedade, mais do que na escola, e é necessário
pensar na escrita como objeto cultural criado por inúmeros usuários.
A escrita não é apenas um sistema de
traços ou sinais, ela deve ter relação com os sons da fala. A leitura é uma
atividade permanente importante na educação infantil, mas, a ação de ler não
deixa marcas visíveis no objeto e , quando deixa, são sinais de escrita, não de
leitura. Assim que a criança percebe que a fala pode ser representada começa a
desenhar letras em suas produções, principalmente nas ilustrações.
Escrever é fazer sinais e deve ser
explorado desde cedo as condições de se dizer algo por escrito. Mas, a escrita
não se limita a tornar visível o que é audível esta é apenas uma das suas
características lingüística. Não é uma fotografia da fala, mas uma
representação. A escrita permite um olhar distanciado da língua, um olhar que
omite uma infinidade de detalhes que são necessários para se fazer entender por
escrito.
Se a escritas desenvolvidas ao longo
dos séculos fossem somente códigos, a tradução automática seria brincadeira de
crianças. È justamente por não ser só códigos que os leitores devem ser
interpretes, o que é muito diferente de ser um decodificador.
Ao ler para as crianças, o interpretante
informa às crianças que aqueles sinais têm poderes mágicos, ao olhá-los
simplesmente se produz linguagem.
O leitor é de fato um ator: empresta
sua voz para fazer com que o texto se re-presente, isto é, para que volte a se
fazer presente.
O caminho de aprender a escrever
convencionalmente não é nada fácil, é cheio de obstáculos, mas se estimulamos a
criança desde pequena a querer vencer este desafio oportunizando situação de
leitura e escrita que provoque a vontade de saber ler e escrever o que facilitará
bastante seu desenvolvimento no ensino fundamental.
O trabalho com o próprio nome da
criança é elemento importante na compreensão da identidade, que também se
realiza por escrito.
No início, a descoberta do próprio
nome por escrito é fonte de orgulho e de prazer. Mas, aos poucos depois,
transforma-se em fonte de problemas:
• Por que aquelas letras e naquela
determinada ordem são usadas para o seu nome?
• Por que havendo tantas letras nesse
mundo devo compartilhar minha inicial com a de outras pessoas conhecidas e
desconhecidas.
• Por que os nomes têm tamanhos
diferentes?
• As palavras podem ser decompostas
em sílabas?
Quando a criança não conta com um bom
interpretante (em casa ou na escola) começa o drama. Quando a leitura e a
escrita é realizada de qualquer maneira nas instituições de ensino acontece o
Silêncio do Encantado.
Alguns professores acham difícil
ensinar recorrendo a magia desafiadora. Têm a sensação de perder tempo.
E precisam de rituais de grafismos (ma-me-mi-mo-mu), ou cópia de letras e
palavras em linhas e mais linhas do caderno.
Sabemos que não é nada fácil o
trabalho com salas lotadas com 35 crianças e essa prática é usada por alguns
educadores como estratégia para manter a ordem, já que passam um tempo enorme
tentando fazer os traços (as letras). Infelizmente ainda não perceberam os que
recorrem a essa prática que estão atrofiando e menosprezando a capacidade de
aprender a ler e escrever das crianças.
Se nem mesmo a proposta de
alfabetização no ensino fundamental se apoia na prática do copismo de letras e
sílabas por que algumas instituições de educação infantil ainda insistem neste
trabalho equivocado? Não existem outras atividades que envolvem a escrita nas
outras linguagens infantis que possam ser exploradas na infância? O que dificulta
lidar com esta com esta linguagem?
Temos professor que não lê e ensina a
ler, professor que não escreve e ensina a escrever. Quando a prática do
registro escrito foi incorporada na formação dos educadores a reação foi de
insegurança devido à dificuldade em expressar suas ideias por meio da palavra.
Oportunizar as crianças experiências tediosas que reduz toda a capacidade de pensar em um par de olhos, um par de ouvidos e um aparelho fonador precisa ser revertido aos poucos educadores que ainda insistem em tal prática pedagógica.
Oportunizar as crianças experiências tediosas que reduz toda a capacidade de pensar em um par de olhos, um par de ouvidos e um aparelho fonador precisa ser revertido aos poucos educadores que ainda insistem em tal prática pedagógica.
Ler e escrever na educação infantil é
possível. Vivemos num mundo grafocêntrico. As palavras estão espalhadas por
parte. Todas as crianças têm direito de ser cidadã da cultura escrita.
Ao receberem informações sobre a escrita
quando: brincam com a sonoridade das palavras, reconhecendo semelhanças e
diferenças entre os termos, manuseiam todo tipo de material (nos livros, nos
jornais, nas cartas, nos documentos oficiais, nas publicidades, nos
calendários, nos mapas e em vários outros objetos cuja razão de se é a própria
escrita), quando o professor lê para sua turma ou serve de escriba, as
crianças já estão participando de um ambiente alfabetizador.
Se a educação infantil cumprir seu papel,
envolvendo
os pequenos em atividades que os façam pensar e compreender a escrita, no final dessa
etapa eles poderão estar naturalmente alfabetizados (ou aptos a dar passos mais
ousados em seus papéis de leitores e escritores).
Como criar situações motivadoras?
A aprendizagem é motivada por
interesse, uma necessidade de saber. Mas, quem determina este interesse e
necessidade? No entanto, um bom caminho a seguir é compreender que além dos
aspectos cognitivos, a aprendizagem envolve aspectos afetivos-relacionais.
Ao construir os significados pessoais sobre a realidade, constrói-se também o
conceito que se tem de você mesma e também a estima características importantes
ao equilíbrio pessoal.
Na concepção construtivista
socio-interacionista as crianças chegam na escola com vários conhecimentos advindos
da sua experiência pessoal e a partir destes conhecimentos a criança construirá
e reconstruirá novos significados. A participação do professor nesse processo é
fundamental. A cada sequência didática bem planejada a
criança com ajuda do professor será capaz de construir novos conhecimentos
inclusive sobre a escrita.
A prática apresentada a seguir é um
recorte de um conjunto atividades realizadas. As crianças conversaram,
leram, pesquisaram, brincaram, cantaram, dançaram explorando a cultura popular
brasileira e nesta fase da sequência didática os festejos juninos provocaram
diversas curiosidades já que é um bairro composto na sua grande maioria por
moradores nordestinos.
È um bom exemplo de situação que envolve a escrita e leitura na educação infantil, saindo da reprodução para a construção de conhecimento por meio escrita e da própria escrita, respondendo a provocação inicial através da prática. È possível escrever e ler na educação infantil!
È um bom exemplo de situação que envolve a escrita e leitura na educação infantil, saindo da reprodução para a construção de conhecimento por meio escrita e da própria escrita, respondendo a provocação inicial através da prática. È possível escrever e ler na educação infantil!
Professora:
Crianças:
Idade: 5 anos
Para pensar e contextualizar a ação
pedagógica da professora:
- A professora sabe quais são os conhecimentos
prévios das crianças sobre o assunto.
- Valoriza a importância destes conhecimentos
(explicitados ou não/ currículo oculto).
- Aproveita o interesse da turma.
- Reconhece que as crianças são capazes de saber
mais sobre o assunto.
- Planeja situações em que a escrita possa ser
vivenciada num contexto convidativo a querer saber mais sobre a
representação de ideias por meio da palavra.
- Oportuniza o contato com outro portador de
texto (mapa-cartografia) ampliando conhecimentos em outras linguagens.
- Valoriza os saberes da comunidade e aproveita
para fazer da escola um ambiente educativo para todos.
A professora Ivanete convidou mães
para participarem de uma conversa com as crianças e contar como acontecem os
festejos juninos no seu Estado de Origem.
Ednalva mãe do Felipe contribuiu com
os seus saberes relatando sobre a cultura junina em Pernambuco.
Felipe ficou muito orgulhoso e logo
se posicionou ao lado da sua mãe.
Na lousa a
professora afixou papéis para o registro das informações. O mapa do Brasil
político novamente foi trazido para uma situação de leitura e compreensão
geográfica.
Ivanete ( professora) conversa com
Ednalva (mãe) sobre a proposta do encontro.
Ednalva timidamente fala sobre sua
trajetória pessoal até chegar ao Estado de São Paulo.
Quanto tempo morou em Pernambuco,
quando veio para São Paulo, a quanto tempo mora no bairro.
Logo foi um alvoroço, outras crianças
também disseram que seus pais eram de Pernambuco e assim, começaram a
participar da conversa.
A professora aproveitou a curiosidade
latente e mostrou no mapa a localização do Estado de Pernambuco, por isso,
Ednalva levara tantos dias para chegar de Ônibus em São Paulo.
Conforme as crianças relatavam o
Estado de origem de seus pais a professora fazia o mesmo processo de
localização geográfica.
Ednalva falou sobre:
- Comidas típicas nas festas juninas de
Pernambuco
- Brincadeiras
- Bebidas
- Costumes
A professora foi a escriba enquanto
as crianças faziam as perguntas.
Ednalva estava relatando sobre as
brincadeiras mais comuns em Pernambuco quando de repente Gabrielle se levanta e
diz: -Eu conheço essa brincadeira chamada pastoril!
Professora:- De onde você conhece?
Gabrielle:- Quando fui na Paraíba com
a minha mãe no ano passado brinquei com meus primos.
Ednalva:-Como é que vocês brincam?
Conforme Gabrielle ia relatando
Ednalva falava sobre as semelhanças e diferenças no modo de brincar o pastoril.
Foi interessante ver como as crianças
se sentem importantes e auto-confiantes quando seu saberes são valorizados.
Felipe neste momento ficou com
ciúmes, mas, logo depois também resolver fazer uma pergunta a sua mãe.
Agora, Ednalva respondia ao próprio
filho.
Felipe:-Que brincadeira você mais
gostava, mãe?
Ednalva:-De fazer boneca com sabugo
de milho.
As crianças caíram na gargalhada e
quiseram saber como era feita a boneca.
Jamilly perguntou: - Na festa junina
lá em Pernambuco as pessoas dançam?
Ednalva:- Dançam muito ...
Assim, as crianças foram conhecendo
mais sobre a cultura de Pernambuco.
Ivanete registrou tudo em uma folha.
No dia seguinte aproveitou as riquezas de informações coletadas para realizar
atividades de leitura e escrita com as crianças.
Atividades que envolveram:
- Leitura das palavras (realizada pela
professora)
Exploração da:
- Sonoridade.
- Quantidade de letras.
- Iniciais do nome. Palavras que começam e
terminam com a mesma letra mas, que têm significado diferente.
- Escrita das palavras que despertaram maior
interesse em conversar como foi o caso do pastoril.
- Uso do alfabeto móvel para escrever algumas
das palavras do cartaz.
- Localização de palavras.
O que as crianças tiveram a
oportunidade de aprender? Você mesmo leitor, poderá fazer a reflexão e listar
quais aprendizagens estiveram presentes nesta atividade.
Parabéns, a professora Ivanete da
EMEI Rumi Oikawa pelo belo trabalho realizado. Existem professores capazes de
fazer a diferença na educação!
Bibliografia
-Scarpa,Regina. Alfabetizar na educação
infantil. Pode?Revista Nova Escola
-Faria, Ana Lucia Goulart. (Org). O
coletivo infantil em creches e pré-escolas.Editora Cortez. e -Ferreiro,
Emilia.O ingresso nas culturas escritas.
-Vygotsky,LS. Formação social da
mente. Editora Martins Fontes
-Coll, César.(Org) O construtivismo na sala de aula. Editora Àtica
feitas durante minha prática
pedagógica, me fazem questionar onde estão as dificuldades dos alunos na
aquisição da linguagem escrita.
As Dificuldades da Linguagem Escrita na
Educação Infantil
Pesquisar este tema foi uma
necessidade que surgiu da prática pedagógica, já que venho observando, ao longo
de meu trabalho enquanto professora da educação infantil de 3 a 6 anos, a
dificuldade que alguns alunos sentem em relação à aquisição da escrita.
Sabemos do direito dessa criança à
uma educação de qualidade que deve, entre outras garantias, possibilitar a
todas, o acesso ao conhecimento, sem perder de vista as especificidades desta
faixa etária.
A linguagem escrita parte de algumas
premissas básicas como uma perspectiva de aprendizagem/desenvolvimento
fundamentada na idéia de que o conhecimento encontra-se no mundo social e de
que, nas relações que estabelecem com outros sujeitos, o indivíduo se apropria,
transforma e cria saberes.
Na prática de professora de educação
infantil, deparamos cada vez mais com crianças que enfrentam grandes
dificuldades na aprendizagem da escrita observando que a maioria ainda
necessita de brincar, o que é uma forma privilegiada de a criança ser e estar
no mundo.
Tais observações me levaram a
refletir sobre o desempenho insatisfatório de alguns alunos que não conseguem
acompanhar sua turma de origem, causando uma baixa auto-estima e um desgaste na
relação professor-aluno.
Temos que pensar numa concepção de
aquisição da linguagem escrita como parte do processo de letramento, isto é, de
um aprendizado que se dá nas práticas sociais reais da escrita, vivenciadas
pelas crianças e que, portanto, não se restringe ao domínio do código.
MINAS GERAIS (2004)
A compreensão e valorização das
funções sociais da escrita é uma aprendizagem ligada aos planos conceitual,
procedimental e atitudinal, que pode ter início desde os primeiros momentos da
criança à escola e deve continuar até o final de sua formação estudantil
(p.50).
Diante desta concepção podemos
perceber que muitas crianças chegarão à escola sem saber não só como se
escreve, mas também por que e para que se escreve. A partir do momento que
entenderem o “porque” e o “para que”, compreenderão também “como” se escreve.
Assim, os educadores necessitam
repensar suas práticas pedagógicas, buscando apoio em especialista como o
pedagogo e psicopedagogo na realização de estudos referentes aos problemas de
aprendizagem, para alcançar o objetivo mais esperado: uma educação de
qualidade.
A escolha pelo tema se justifica pela
necessidade de compreender melhor como a criança constrói seus conhecimentos
sobre a escrita e quais são as dificuldades que elas encontram neste processo,
aprimorando assim, de forma satisfatória minha prática pedagógica.
Diante de questionamentos como: que
dificuldades são encontradas para adquirirem a linguagem escrita? Que papel
assume os materiais escritos na vida dos alunos? Quais são os usos da escrita
no cotidiano do aluno?
Além disso, este trabalho é
importante também, porque poderá servir de apoio para professoras da educação
infantil, pois a partir das discussões apresentadas poderão refletir e
questionar sua prática pedagógica bem como ações e estratégias quanto à
linguagem escrita.
É um trabalho de relevância por se referir
à especificidade da linguagem escrita, tendo como foco o papel decisivo que
assume o contexto institucional nesse aprendizado, sobretudo para as crianças
originadas de classes de família de baixa renda e de pouca escolaridade.
Uma das dificuldades na aquisição da
linguagem escrita é a falta de contato com o objeto a ser aprendido. Por isso é
necessário pensar na criação de um ambiente alfabetizador, povoando esse espaço
de material escrito e possibilitando a interação cotidiana das crianças com esse
objeto. Além disso, ampliar seu universo, possibilitando que suas vivências
seja enriquecidas com a abertura de possibilidades de acesso a diferentes
produções culturais, meios comunicação e tecnologias, levando em consideração,
é claro, as prioridades e as possibilidades de interação próprias de sua faixa
etária.
II.PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Ao se pensar em trabalhar com
crianças de 3 a 6 anos a linguagem escrita ou qualquer outro objeto de
conhecimento, é importante que se tenha claro que, desde que nascemos estamos
imersos à cultura e é, portanto, nela que nos constituímos como humanos.
Para analisar quais as dificuldades
que as crianças encontram na aquisição da linguagem escrita, é pensar em que
contexto sócio cultural local e mundial vive a criança com a qual trabalhamos.
Segundo FERREIRO (2001),
A língua escrita é um objeto de uso
social, com uma existência social (e não apenas escolar). Quando as crianças
vivem em um ambiente urbano, encontram escritas por todas parte (letreiros da
rua, vasilhames comerciais, propagandas, anúncios da tevê, etc). no mundo
circundante estão todas as letras, não em uma ordem preestabelecidas, mas com a
freqüência que cada uma delas tem na escrita da língua (p.37).
Ao focarmos nosso olhar
especificamente na linguagem escolar, é fundamental que busquemos investigar
sobre o contexto de letramento que vem constituindo essas crianças e suas
famílias: que papel assume os materiais escritos em suas vidas? Quais os usos
cotidianos que a família faz da escrita? Só de posse destes dados é que podemos
analisar o “por que” da dificuldade da criança na aquisição da linguagem
escrita.
MINAS GERAIS (2003), “Pensar no
contexto da criança numa perspectiva local significa conhecer as condições de
vida da família, as relações que em função dessas condições a criança
estabelece em sua comunidade e compreender a cultura que a constitui desde o
nascimento” (p.35)
Sabemos que a modernidade nos trouxe
várias conquistas desde o aumento de produções até o desenvolvimento das
comunicações, mas em decorrência desta modernidade, muitos pais são afastados
de seus lares para o trabalho, as ruas não são mais espaço para brincar por
causa da violência, e neste contexto a televisão tem uma entrada definitiva na
pedagogia cultural, aumentando uma cultura consumista, passiva e muitas vezes
desviando a formação de valores.
Por isso é necessário que se destaque
que o maior acesso aos bens culturais abre um distanciamento cada vez maior
entre aqueles que usufruem desses bens e aqueles que a eles não tem acesso.
Assim, o que se verifica é que enquanto algumas crianças desta faixa etária
encontram-se num mundo repleto de altas produções culturais, outras se
encontram alheias a esses bens, sem acesso às novas tecnologias e até mesmo sem
informações sobre sua existência.
MINAS GERAIS (2003) (…) é papel
das instituições de educação infantil desenvolver todas as demais formas de
linguagem, fazendo a mediação entre a criança e a cultura e possibilitando seu
acesso às fontes de conhecimento (p.36).
Segundo CAGLIARI (1999),
A alfabetização depende crucialmente
do conhecimento da categorização gráfica e funcional. Aí se localiza um divisor
de águas: quem consegue entender isso, pula a barreira do analfabetismo e
aprende a ler; quem não consegue, fica tentando em vão outras maneiras de
aprender. Grande parte do trabalho de alfabetização deverá voltar-se, portanto,
para o estudo desses dois aspectos (p.122).
Ou seja, é preciso saber a
categorização das letras, quer no seu aspecto gráfico (equivalência das letras
nos diferentes alfabetos), quer no seu aspecto funcional (quais as letras e sua
ordem para escrever determinada palavra).
Outro ponto importante que se torna
dificuldade de alguns alunos na escrita é saber em que direção a escrita vai. A
escrita obedece uma ordem, da esquerda para a direita e, às vezes a crianças
preocupada com o traçado das letras, confunde e acaba escrevendo de forma
espelhada, isto é, da direita para a esquerda, como no caso do C, S, E e
outros.
No caso dos dois sistemas envolvidos
no início da escolarização (representação de números e representação da
linguagem), mostram que as dificuldades que as crianças enfrentam são
dificuldades conceituais semelhantes às da construção do sistema e por isso
pode-se dizer, em ambos os casos, que a criança reinventa esses sistemas. Não
se trata de reiventar as letras nem os números e sim servir destes elementos
para construir sua escrita inventada.
O papel da instituição passa a ser
determinante, ajudando a criança a inserir na cultura, compartilhando com a
família a responsabilidade pela formação humana de seus filhos. Assumir essa
nova dimensão das creches e pré-escolas é promover os cuidados necessários à
preservação da vida, contribuindo efetivamente para o aprendizado do
autocuidado, ligado às necessidades básicas de alimentação, sono, higiene e
saúde. Esse aprendizado se estende até o conhecimento das leis mais gerais que
regem a natureza e a cultura, passando essencialmente pelo aprendizado do
brincar, exercitado cotidianamente nos jogos de faz de conta, que possibilitam
a ela a compreensão e a transformação dos demais aspectos. Além disso, nesse
processo, é papel das instituições de Educação Infantil, fazendo a mediação
entre a criança e a cultura e possibilitando seu acesso às fontes de
conhecimento.
2.1. O sujeito
que aprende
§ Quem é a criança de
zero a seis anos, hoje? Quais as suas especificidades? Quais as suas
necessidades?
§ Como essas crianças
aprendem e se desenvolvem?
Sabemos que, através dos estudos da
antropologia, da psicologia e da sociologia, que a concepção de criança é uma
construção sociohistórica.
Na sociedade contemporânea, embora
haja inserções diferenciadas das crianças nas diversas culturas que coexistem
num mesmo país, num mesmo estado, numa mesma cidade, definindo, portanto, uma
diversidade na constituição desses sujeitos, podemos dizer que “há uma
cultura da infância, uma lógica infantil que se diferencia do mundo adulto”
(Gouvêa, 2002, p.13). Há uma interação entre os aspectos da natureza e da
cultura, que vai constituindo as especificidades do ser criança nessa
sociedade.
Dentre essas especificidades, podemos
citar a sua extrema dependência física ao nascer e a progressiva construção da
autonomia, na perspectiva do autocuidado. Há um grande desenvolvimento
físico-motor e, a partir das diversas interações estabelecidas com os objetos e
espaços a que tem acesso, mediadas pelos diferentes sujeitos dessa cultura, vão
estabelecendo laços sociais e afetivos, construindo sua corporeidade, sua
identidade, ao mesmo tempo em que se apropriam dos significados historicamente
construídos nessa cultura: conhecimentos, valores e práticas sociais.
Ressalte-se nesse processo, a
construção da capacidade de ação simbólica sobre o mundo social e natural,
possibilitando às crianças representarem esse mundo através de símbolos. Elas
nascem com um código num nível elementar biológico e progressivamente, através
das interações com sujeitos da cultura, vão incorporando esses sistemas de
símbolos e signos, utilizando-os, transformando-os e desenvolvendo essa função
mental superior. Desse modo, são os adultos e outros que interagem com a
criança que atribuem significado a um movimento seu, tornando-o gesto; dão
significados aos seus balbucios, tornando-os fala; aos seus rabiscos e
garatujas tornando-os desenhos ou escrita. Estruturam-se, assim, o pensamento
verbal e as múltiplas linguagens, que, nessa faixa etária se mesclam,
funcionando de forma interdependente e sedimentando outra forma de as crianças,
como sujeitos sociais, se relacionarem com a cultura.
No caderno do professor MINAS GERAIS
(2003) explica que:
O brincar, a imitação, a repetição, a
imaginação, a interação com os pares, a exploração e a experimentação são
características da ação infantil, utilizadas para compreender e transformar o
mundo em que estão imersas. É necessário enfatizar o brincar como forma
privilegiada de as crianças dessa faixa etária se conhecerem, se expressarem,
bem como de compreenderem, significarem e transformarem o mundo. (p.37).
Entretanto, suas possibilidades de
aprender e se desenvolver são determinadas pelo tipo de experiência e pela
qualidade das interações que estabelecem com a sua cultura. Nesse sentido, os
espaços educativos coletivos, como as creches e pré-escolas, desempenham um
papel fundamental para possibilitar esse desenvolvimento. Precisam, para tanto,
conhecer as crianças concretas que vêm paras essas instituições, isto é,
conhecer os saberes, valores e práticas nos quais elas estão se constituindo,
bem como conhecer as especificidades e necessidade das crianças dessa faixa etária,
levando em conta esses conhecimentos na organização de suas propostas
pedagógicas. Além disso, para contribuir com a aprendizagem de todo e qualquer
objeto de conhecimento, é necessário que conheçam objeto as ser ensinado.
2.2. Os sujeitos que aprendem sobre
linguagem escrita no contexto de uma cultura letrada
Segundo Rego (1995, p.38) ” As
crianças descobrem sobre a língua escrita antes de aprender a ler” . A
autora faz esta afirmativa a partir de seus estudos, nos quais busca
estabelecer uma comparação entre o processo da aquisição da linguagem oral e o
da escrita. Desse modo, assim como se evidenciou que as crianças adquirem a
linguagem oral quando envolvidas em contextos comunicativos em que essa
linguagem é significativa para elas, da mesma forma pode-se constatar que, se
uma criança vive numa cultura letrada, na qual ela pode presenciar ou vivenciar
situações significativas de uso da leitura ou escrita, inicia-se aí o processo
de aprendizagem dessa linguagem.
Desse modo, se nas interações com os
sujeitos da cultura, ela participa de situações onde se torna necessário, por
exemplo, consultar placas de sinalização ou um catálogo para achar um endereço,
ou ler um jornal para se informar sobre os acontecimentos diários, ou ler uma
bula para se orientar sobre o uso de medicamentos, ou ler uma receita para
fazer um bolo, ou anotar um recado ou fazer uma lista para não se esquecer de
algo, ou escrever uma carta para se comunicar com alguém que está distante, ou
redigir um aviso para informar as pessoas sobre algum imprevisto, ou mesmo se
deliciar e “viajar” com histórias ou poesias, ela está tendo contato com
diversos tipos de textos, necessários a alguma forma de interlocução através da
escrita, apropriando-se progressivamente dos seus usos e funções e de suas
estruturas próprias.
Para SOARES (2001) ” letramento é
o estado ou condição de que se envolve nas numerosas e variadas práticas
sociais de leitura e de escrita” (p.44) e ainda acrescenta: “letramento
é um conjunto de práticas de leitura e escrita que resultam de uma concepção de
o quê, como, quando e por quê ler e escrever” (p.75).
Paralelamente, a partir da vivencia
dessas situações, mediadas por outros sujeitos letrados, as crianças vão se
apropriando do sistema de representação dessa língua. Ao pesquisar como se dá o
processo de reconstrução pelas crianças desse sistema de representação da
língua escrita, Emília Ferreiro e Colaboradores, concluíram que quando elas têm
acesso a essa linguagem, vão construindo hipóteses muito próprias sobre o que a
escrita representa e como ela é representada, buscando compreender o nosso
sistema alfabético de escrita.
Inicialmente, nesse processo, quando
ainda não percebem que existe uma relação entre a escrita e os aspectos sonoros
da fala, as crianças tentam, por exemplo, estabelecer relação entre a escrita e
as características físicas ou psicológicas do objeto representado, como por
exemplo quando ela utiliza muitas letras para escrever a palavra trem porque
esse é um meio de transporte grande, e utiliza poucas letras para escrever
bicicleta, porque é um meio de transporte pequeno. Costumam também utilizar
apenas as letras de seu nome, invertendo a sua ordem para escrever coisas
diferentes ou acreditam que não se pode ler ou escrever utilizando-se menos de
duas letras. Nesta fase a criança cria uma série de outras hipóteses de caráter
quantitativo e qualitativo, visando compreender o que significa essa escrita do
adulto. Essas hipóteses foram denominadas por Ferreiro e Teberosky de hipóteses
pré-silábicas.
Quando a criança, a partir dos
conflitos vivenciados nas suas tentativas de compreender esse sistema, se dá
conta da existência de uma relação entre a escrita e os aspectos sonoros da
fala, cria a hipótese de que a cada som emitido na fala corresponde uma letra
(ex: coloca três letras para escrever cavalo ou duas para escrever bode). Essa
hipótese, denominada silábica, significa um grande avanço no seu processo de
reconstrução desse sistema, pois ela já descobriu o que a escrita representa,
faltando apenas compreender como ela representa.
Assim, a partir do contato com
diversas situações de escrita, mediadas por outros sujeitos letrados, a criança
continua esse processo de construção de nosso sistema de representação, criando
hipóteses até chegar à percepção de que a cada fonema corresponde um grafema
(hipótese alfabética) e caminhar para a compreensão das regras ortográficas.
Nesse processo, vai também se
apropriando dos aspectos gráficos da linguagem escrita, isto é, das letras, do
uso de maiúsculas e minúsculas, da pontuação, da segmentação, da orientação da
escrita.
Evidencia-se, portanto, que a
linguagem escrita é um objeto complexo e dinâmico de aprendizagem, que envolve
a apropriação/reconstrução de vários aspectos: funcionais, textuais, gráficos e
aqueles relativos ao sistema alfabético de representação.
Sua aprendizagem pressupõe interação
entre sujeitos de uma cultura letrada e, diferencialmente da linguagem oral,
requer uma ação intencional e, muitas vezes, planejada. Foi em função disso que
a sociedade delegou à escola o papel de ensinar a linguagem escrita e, hoje,
reconhece-se a possibilidade de trabalhar o processo de construção dessa
linguagem desde a Educação infantil.
Entretanto, se a aprendizagem dessa
linguagem pressupõe interações de tal ordem, temos que nos perguntar: em que
medida o mundo letrado faz parte do repertório de saberes, valores e práticas
do grupo social a que as crianças pertencem?
Essa é uma questão fundamental, tendo
em vista que as crianças que vêm para a escola são provenientes de contextos
socioculturais diferentes. Assim, há crianças para as quais os pais lêem
histórias desde muito pequenas e que vivenciam ou presenciam vários atos
significativos de leitura ou escrita no seu cotidiano. Outras geralmente as das
camadas populares têm menos ou pouquíssimo contato com sujeitos letrados. Desse
modo, se tivermos a clareza de que as possibilidades de as crianças aprenderem
e se desenvolverem são determinadas pelo tipo de experiência e pela qualidade
das interações que estabelecem, temos que levar em conta os contextos de onde
elas são provenientes e tomá-los como ponto de partida para o desenvolvimento
de nossa prática pedagógica. A partir daí, caminharemos no sentido de lhes
possibilitar esse acesso, de forma significativa, não importando em que nível
de escolaridade elas estejam.
O trabalho psicopedagógico
institucional poderá auxiliar o aluno na sua produção e para além dela, ao
colocá-lo em contato com suas reações frente à tarefa escolar, com seus
vínculos com pessoas ou com conteúdos escolares, com seus lapsos, bloqueios,
sentimentos de angustias, hesitações, etc.
SCOZ (1994) nos relata sobre a
dificuldade da aquisição da escrita:
Embora bloqueios emocionais possam
estar relacionados a inúmeros fatores que fogem ao controle da escola, muitas vezes
também podem originar-se no próprio contexto escolar, em decorrência de
exigências rígidas e inadequadas, que redundam na rejeição dos alunos,
principalmente, dos provenientes das camadas mais baixas da população. Se as
exigências do professor transformam o aprendizado da escrita em tarefa difícil,
que sobrecarrega os alunos, estes tendem a estabelecer uma relação negativa com
o professor e a rechaçar a língua escrita, formando-se, assim, um obstáculo
sócio-afetivo para o aprendizado (p. 64).
Nesta perspectiva, sabemos que quando
a criança nega a escrever, o professor deverá buscar formas de atuação a partir
de outros canais de comunicação em que ela demonstra maior facilidade, como por
exemplo, transpor as idéias da criança levando-a a compreender que sua idéia
pode ganhar forma. A partir daí, a professora trabalha o desenvolvimento do
aluno, fornecendo pistas e mostrando que seu problema poderá ser solucionado.
III. A CRIANÇA E A ESCRITA
Por se tratar de um tema relacionado
à área educacional, para este trabalho privilegiou-se a pesquisa qualitativa,
com objetivo de conhecer de perto a realidade e o cotidiano da prática escolar
no Centro Infantil Municipal “Pituchinha”, da zona urbana da cidade de
Cipotânea, interior de Minas Gerais.
Para maior compreensão do objeto de
estudo, a observação foi feita em sala de aula com 4 alunos de 5 anos da
educação infantil em uma turma, analisando trabalhos que envolvem a aquisição
da linguagem escrita.
Escolhi desenvolver a minha pesquisa
com alunos desta faixa etária, por estarem dentro do objeto pesquisado:
dificuldades na aquisição da linguagem escrita. Quanto à escola é por ser a
única de educação infantil na zona urbana e por ser o local em que trabalho.
Outro aspecto a ser considerado neste
trabalho é o fato de que são alunos originados de famílias diferentes, uns de
renda baixa e outros de renda média-baixa, no intuito de comparar como o
contato com materiais escritos e o incentivo por parte dos pais em relação o
uso da escrita, podem influenciar na aprendizagem.
Tratar dessas questões significa,
primeiramente, discutir sobre que são os sujeitos que ensinam. Nesse sentido,
cabe retomar a idéia de que a escrita é um objeto social, que circula numa
cultura letrada, atendendo a funções diferenciadas, de acordo com as
necessidades de sua utilização. A escola foi incumbida de ensiná-la, mas isso
não a torna um objeto escolar. Assim, antes, durante e posteriormente ao
processo de escolarização, os sujeitos sociais estão vivenciando e aprendendo
sobre esse linguagem em contextos reais de uso, muitas vezes pela mediação de
outros sujeitos da cultura.
Embora de forma não-sistemática,
esses sujeitos ensinam linguagem escrita. Por outro lado, na instituição
educativa os vários sujeitos – professores e alunos, alunos e alunos, alunos e
outros profissionais – que interagem na ação pedagógica, de forma intencional e
planejada, contribuem decisivamente no processo de aprendizagem da linguagem
escrita, constituindo-se como sujeitos que ensinam. Espera-se que tragam a
linguagem escrita para a escola enquanto objeto social que é, sem dissociá-la
de seus usos.
Em segundo lugar, tratar das
estratégias de ensino é discutir sobre a organização do trabalho pedagógico, no
que respeito à organização dos objetivos, dos conteúdos, dos tempos, dos
espaços, dos materiais, das crianças, das metodologias de trabalho, bem como no
que se refere às intervenções e às posturas que permeiam a ação pedagógica.
Na observação feita em sala de aula
dos alunos pesquisados pudemos perceber que a organização das crianças é de
interação, levando ao desenvolvimento de um trabalho de qualidade em torno da
linguagem escrita. Sabemos que, nas propostas pedagógicas das instituições, a
materialidade desse contexto deve ser planejada pelos professores, envolvendo
organização do espaço e de formas de utilização dos recursos físicos pelas
crianças.
Outro aspecto relevante que pudemos
observar na sala de aula dos alunos pesquisados é o ambiente alfabetizador.
Dessa maneira, se considerarmos no trabalho com a linguagem escrita a
importância dos aspectos ligados ao letramento e à aquisição da escrita como
sistema de representação, temos que criar um ambiente alfabetizador. Isso
significa trazer para as crianças o mundo da leitura e da escrita em situações
em que ela se torna necessária no cotidiano do trabalho, possibilitando o
acesso a bons textos escritos em diversos gêneros discursivos, ampliando a rede
de interlocutores da criança, por meio de situações reais de leitura e escrita.
Foi feita também uma observação do
trabalho da Pedagoga (S.C) da E. E. José Dias Pedrosa da referida cidade,
porque na E. M. “Pituchinha” onde os alunos foram pesquisados, não existe este
cargo. Na observação feita pude constatar que a pedagoga tem um imenso empenho
em ajudar a professora alfabetizadora no sentido de os alunos adquirirem a
escrita. Um dos trabalhos observados feito pela pedagoga foi o “portifólio”, um
trabalho de organização das atividades feitas pelos alunos com o objetivo de
acompanhar o desenvolvimento dos mesmos.
Ao se pensar na organização do tempo
de aprendizado da linguagem escrita, temos que ter em mente duas dimensões
temporais: a primeira, que se refere ao próprio tempo da vida das crianças, as
suas características e necessidades específicas, às relações desse tempo com o seu
ingresso na instituição da Educação Infantil e, nesse contexto, o momento do
aprendizado da linguagem escrita. A segunda dimensão que diz respeito à
organização do tempo que a criança permanece na instituição. Nesse sentido,
convém nos perguntar sobre o planejamento das ações cotidianas e como o
trabalho com a linguagem escrita é visto nesse contexto.
Dos quatro alunos observados pudemos
detectar que em três deles a evolução da escrita está dentro de sua faixa
etária, mas tem um aluno mais lento na aquisição da escrita, portanto temos que
observar se ele não está dentro do seu próprio tempo e que incentivo recebeu
antes de vir para a escola. Quando mostrada as gravuras de “Nescau” e de um
telefone “celular” pudemos observar que há dois alunos originários de famílias
de baixa renda e de pouca escolaridade que não conhecem os produtos. Por isso,
podemos concluir que o ambiente alfabetizador com diversos portadores de textos
é fundamental na alfabetização.
Quando abordados sobre o “envelope de
carta”, os alunos pesquisados disseram que conhecem, mas que nunca utilizaram,
podemos concluir que na verdade o aluno não sabe o real significado do uso de
um envelope de carta, daí a necessidade de envolver variadas escritas para as
práticas sociais de leitura e escrita, afim de que o alfabetize dentro da
perspectiva do letramento.
Também os diferentes espaços da
escola podem ser pensados para o desenvolvimento de ações relacionadas á
aprendizagem da leitura e da escrita. O jardim, o pátio coberto, a área externa
podem ser utilizados para momentos de leitura, assim como o refeitório, a horta
e as paredes da escola, com seus cartazes e indicativos contextualizados, podem
ser favorecedores de situações de escrita ou de oportunidade de leitura.
Além disso, as saídas do ambiente
institucional, ampliando os espaços físicos e culturais, sempre oferecem
situações significativas em que o uso da leitura e da escrita tornam-se
necessários.
Para as crianças que já começaram a
se questionar sobre o que a escrita representa e como ela deve ser
representada, o acesso a um material como o alfabeto móvel é interessante, para
que elas possam, no momento em que forem produzir algum tipo de texto, criar e
recriar suas hipóteses, lidando mais tranqüilamente com seus erros
construtivos.
IV. CONSIDERAÇOES FINAIS
Assim, por tudo que foi tratado ao
longo desse trabalho, é possível concluir que não existe um momento ou uma
idade predeterminada para ter inicio o trabalho pedagógico com a linguagem
escrita. As crianças nascidas num mundo letrado como o nosso são, de alguma
forma, provocadas a interagir com ele. Entretanto, como já foi dito, dependendo
do contexto, esses desafios podem ocorrer de maneira muito diferenciada, em
momentos diferentes de seu desenvolvimento e em locais distintos (em casa ou na
instituição).
Uma vez que essa etapa da Educação
Básica não é obrigatória, o ingresso da criança na Educação Infantil pode
ocorrer com um ano de idade, como pode ocorrer aos dois, quatro ou seis anos. E
é nesse momento que deve iniciar uma ação junto à criança e à sua família, no
sentido de identificar as suas relações anteriores com esse objeto. Só então, a
partir de seus conhecimentos prévios, é possível planejar qualquer ação
intencional, independentemente do fato de ela estar ingressando na Educação
Infantil ou no Ensino Fundamental.
Quanto à distribuição do tempo
durante as quatro ou oito horas diárias em que permanece na instituição ou à
sua utilização no ano letivo, é importante que retomemos características
específicas das crianças de zero a seis anos, apontando em item precedente
desse artigo, as quais nos indicam que o trabalho em torno da linguagem escrita
não deve ser o aspecto a ser privilegiado nas propostas pedagógicas desse
primeira etapa da Educação Básica.
Assim, nessa fase, têm prioridade os
trabalhos voltados para a construção da autonomia da criança, na perspectiva do
autocuidado; para a vivência dos movimentos no espaço, estruturando sua
corporeidade; para a exploração do mundo físico e social, compreendendo e
ampliando a cultura na qual está imersa; para o desenvolvimento do brincar, das
linguagens oral, corporal, visual, musical, que, juntamente com a linguagem
escrita, e de modo interdependente, contribuem para a estruturação do
pensamento e possibilitam a relação da criança com a cultura. Portanto, as
ações pedagógicas relacionadas à linguagem escrita deveriam ser consideradas
como mais uma das múltiplas dimensões a serem levadas em conta na organização
das rotinas diárias e dos planejamentos mensais e anuais das creches e pré-escolas.
Sabemos que é nas interações sociais
que nós, humanos, construímos o saber. Também já faz parte do senso comum dos
educadores a convicção de que o conhecimento, antes de sua apropriação
individual, por cada membro da espécie, encontra-se no coletivo. Assim, aos se
pensar no aprendizado da linguagem escrita, é fundamental que não percamos de
vista que as condições adequadas para a construção desse conhecimento
específico também estão no coletivo de crianças e na possibilidade de torças
existentes nas relações que estabelecem mediadas pelo adulto.
Desta maneira é fundamental a ação
intencional da professora, possibilitando situações em que possam interagir em
duplas, em trios, em grandes grupos e até mesmo individualmente, em alguns
momentos, tendo em vista a apropriação por parte de cada um e as reflexões
sobre o seu próprio processo.
É importante ressaltar a importância
de serem desenvolvidas atividades no coletivo, mediadas pela professora, até
que as crianças se apropriem das estratégias de trabalho, para que possam
fazê-lo mais automaticamente em pequenos grupos.
Todos os recursos utilizados pela
professora no sentido de desenvolver a escrita da criança, como já foi dito,
deve primeiramente analisar os conhecimentos prévios da mesma juntamente com a
pedagoga da escola, para tomar como ponto de partida para conhecimentos mais
aprofundados.
A criança da pré-escola tem
necessidade de brincar, de movimentar, de se relacionar umas com as outras para
o seu desenvolvimento psicomotor. Como professoras e pedagogas temos que
atentar para o estágio em que se encontra a criança no sentido de observar seu
desenvolvimento de acordo com sua faixa etária e com suas características
específicas.
V.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando
sem o ba-bé-bi-bó-bu. Editora Scipione. São Paulo 1999.
FERREIRO, Emília. Reflexão sobre
alfabetização. Editora Cortez. São Paulo. 2001.
FERREIRO.E.;TEBEROSKY, A. Psicogênese
da língua escrita. Porto Alegre:Artes Médices, 1985.
GOUVÊA, M.C.S. Infância, sociedade e cultura.
In:CARVALHO, A., SALLES, F. , GUIMARÃES, M.A.,(Orgs). Desenvolvimento e
aprendizagem. Belo Horizonte: Editora UFMG, Proex, 2002.
MINAS GERAIS. Caderno do professor .
Alfabetização. Secretaria de Estado de Minas Gerais. 2003.
MINAS GERAIS. Caderno 2.
Alfabetizando. Ceale: Centro de Alfabetização, leitura e escrita. Governo de
Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte.2004.
REGO, L.B. Descobrindo a língua
escrita antes de aprender a ler: algumas implicações pedagógicas. Caderno do
Professor. Secretaria do Estado de Minas Gerais. 2003
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e
realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes.
1994.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em
três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica. 2001.
VI. ANEXOS
ANEXO I
Mostrarei gravuras de propaganda
como: achocolatado “Nescau”, pasta de dente “sorriso”, um envelope de “carta” e
o desenho de um telefone “celular”, tudo isso para os alunos pesquisados, com o
objetivo de sondar seu conhecimento sobre os produtos. Os alunos serão chamados
um a um para a sondagem necessária, e farei anotações sobre o que observei.
ANEXO II
Será feita a observação em trabalhos
realizados pelos alunos, bem como seu comportamento durante o desenvolvimento
da escrita em sala de aula. Observaremos também o desenvolvimento do trabalho
da supervisora pedagógica no sentido de auxiliar a professora alfabetizadora.
Na escola as crianças fazem muitas
atividades. Na primeira série a atividade principal é a alfabetização. Ser
alfabetizado é saber ler por iniciativa própria. Tudo o mais são acréscimos.
Sem dúvida, a escola vai cuidar de todos os aspectos escolares ligados à
leitura, à escrita e à fala. Como todos nós aprendemos sempre pela vida afora,
a escola não precisa achar que as crianças vão ter que aprender tudo em um ou
dois anos. Há muita ansiedade por parte de muitos educadores, pais e até do
governo, atrapalhando uma atividade educativa mais tranqüilidade, que traga
também a satisfação do que se faz.
O progresso é algo que vai se
acelerar com o tempo. Por outro lado, o professor não pode perder tempo com mil
atividades que simplesmente distraem a criança, sem lhe ensinar as noções
básicas indispensáveis para que aprendem a ler. Escrever é uma decorrência do
fato de alguém saber ler. Quem sabe ler, sabe escrever. O inverso, todavia, não
é verdadeiro, um olhar pode ser um bom copista e não saber ler.
Para ensinar a criança a ler, é
preciso, em primeiro lugar, que o professor saiba como se faz para ler. Os
adultos se acostumam com o fato de lerem automaticamente e não se dão conta dos
mecanismos e dos conhecimentos de que uma pessoa precisa ter para decifrar e
traduzir o escrito em linguagem oral. Aqui está o segredo da atividade do
professor. Todo professor deveria um dia olhar uma palavra, por exemplo, casa,
e escrever todos os conhecimentos necessários para ler essa palavra.
É isso o que ele vai ensinar na
alfabetização. Não basta dizer que usamos letras, porque todas as palavras são
escritas com letras (e outros sinais) não basta dizer que a letra A tem o som
de [a] porque ela pode ter vários outros sons. Por exemplo, o aluno que fala acharo,
em vez de acharam tem que aprender que o som de [u], no final dessas palavras,
também se escreve com a letra A. Não basta decorar que casa tem essa seqüência
de letras porque, desse modo, os alunos precisariam decorar a escrita de todas
as palavras. Então, o que é preciso saber para decifrar a escrita e ler uma
palavra?
Diante da escrita. O leitor (
aprendiz ou usuário já bem treinado) precisa decifrar o que está escrito. A
decifração é aspecto mais importante processo da alfabetização.a compreensão do
que as palavra significa ou até mesmo do texto é uma atividade automática.
Nenhum comentário:
Postar um comentário